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Ao senhor do tempo

  • Foto do escritor: Jéssica Cruz
    Jéssica Cruz
  • 30 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

O tempo é algo surpreendente. Limitamos ele. Vivemos como se fossemos morrer a qualquer momento, mas sempre fazendo planos para o futuro. “Vou fazer algo porque talvez hoje seja meu último dia, porém caso não morra vou investir em ações.” Dizemos para nós mesmo que a vida é uma só.


Toda vez que penso no tempo. Toda vez que penso nesta única vida, me pergunto que diferença faz. Afinal, que diferença faz ser uma única vida?

Em uma busca constante de aceitação, de declarações, de amores de tirar o fôlego, esquecemos do principal sobre o tempo. Ele não volta!

Penso no tempo como um senhor cansado, com seus cabelos brancos e bengala, o famoso “Senhor do Tempo”. Esse senhor sabe como as coisas já foram, lembra dos ventos que tocaram a sua face, de cada onda quebrando na praia ele lembra também. O senhor do tempo, não tem relógio, nem ampulheta. Sua idade quem sabe? Suas histórias? São muitas, são de todos. 

Em toda a sua existência, o senhor do tempo foi acusado diversas vezes, muitas promessas feitas em seu nome sem ele nem compactuar, expectativas criadas em torno dele e, toda a responsabilidade que lhe foi atribuída sem lhe consultar.

Ao senhor do tempo muito lhe dado, muito foi cobrado, ele já está cansado. Observador de histórias alheias, nunca viveu a sua própria. Réu, algoz, tudo menos protagonista. Porém damos a ele nossas vidas. 

Quando nascemos, ele está lá esperando, sentado num canto, com seu suéter bege, calça capri, mocassim marrom, chapéu preto e uma bengala de bambu. Sentado na ponta da cadeira, apoiado para frente, apenas observa a nova vida que está iniciando. Um senhor curvado e pequeno, contudo muito forte.

Ah o tempo! Réu e algoz de nós mesmos.

Ao observar o tempo, lembro de tudo que já vivemos. A ele só é dado o passado, nada sabe sobre o futuro. Vive apenas do que já se passou, porém apenas na memória, ele não pode voltar atrás. O futuro é outra pessoa, aluna do tempo, com ele aprende a escrever sua história. O futuro chega sem bagagem, absorve do tempo suas malas.

O futuro é uma criança indefesa que carrega muitas malas. Sem saber seu próximo passo, ela simplesmente caminha em direção ao que a bússola na mala aponta. Incapaz de tomar as próprias decisões, apenas espera que as bagagens do senhor do tempo lhe ajudem na jornada.

Vitima de nós mesmos. Culpamos o garoto do futuro como responsáveis pelas nossas falhas. Fazemos planos com ele, quando não atende nossas expectativas, culpamos o tempo. O garoto do futuro é uma criança jogando tetris. Sempre tentando encaixar a próxima peça sem ter ciência das outras que virão. O garoto do futuro está a mercê do tempo.

Por fim, estamos nós. Responsáveis pelo que vivemos. Dando aos outros a autoria de nossas vidas. Vítimas do tempo e do futuro. Buscamos tanto que muitas vezes não apreciamos. O tempo que toca nossa face como uma brisa ou tempestade. O futuro que como a onda sempre quebra sem aviso. Responsáveis por nós mesmos. Que nos falta admirar as ondas e os ventos. Viver como temos que viver. Respirar, comer e se alegrar. Amar e sorrir. Brigar e fazer as pazes. Chorar, porque a vida também nos faz chorar. Encher o peito com tudo que há de bom. Apreciar a arte, ouvir boa música. E na nossa memória, na nossa memória os presentes que a vida deu. Afinal de contas, o tempo não volta e o futuro a Deus pertence.


 
 
 

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